segunda-feira, 13 de junho de 2011

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"Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais."
(Ana Jácomo)


Em menos de dez minutos você se lembra de tudo. Você se lembra o motivo ou os motivos que fizeram tudo se perder. E você se lembra que não é culpado e que, talvez, os outros também não sejam. Assim é a vida. Você se lembra que o grande amor da sua vida, o maior, aquele que você nunca superou é o tipo de pessoa que faz questão de ficar longe de você só porque acha certo ficar longe de você e não só porque queira ficar longe de você. Ele prefere ser descolado a humano. E você lembra daquela sensação que sentia ao lado dele, de amor imenso e solidão profunda. E você descobre que ele acha que saudade ou vontade de fazer carinho se resume a uma ficada com uma menina qualquer e que você sentir saudade significa que se apaixonou pelo que não devia. E você percebe que a vida dele, que você tanto colocou no pedestal, pode ser um pouco boba, vazia ou até mesmo triste. Com pessoas tristes, com momentos vazios, com momentos onde ele pode esbanjar sua galinhagem, com botões de deletar de redes sociais, como se isso fosse suficiente para te deletar da vida dele e vice-versa. Com comentários sujos e amigos que o acompanham na madrugada achando que cerveja e cocaína podem ser opções legais. Em minutos você entende como ninguém o que te trouxe até aqui, tão longe dele. O que te levou a desistir do amor, dele e de parte de você. E você entende que ser um tolo apaixonado e transparente foi o seu pecado. Ser covarde foi o dele. Me senti visitando meu próprio cemitério. Com um amor morto e quase enterrado. Visitando uma pessoa daquelas que a gente desenterra de vez em quando só para ter certeza que fizemos a melhor escolha enterrando elas. Pessoas que a gente lamenta a distância, afinal, já foram tão importantes e... será que não dá mesmo para começar tudo de novo e tentar acertar dessa vez? Pessoas que a gente tenta se agarrar para não sentir que a vida caminha para frente e isso significa, ainda que muito filosoficamente, que um dia vamos morrer. O amor fica para trás, os sonhos ficam para trás e um dia seremos nós a desaparecer. Mas a lição que eu aprendi, é que não vale a pena consertar um carro ou um celular pela décima vez. É mais fácil comprar um novo e fim de papo. E deve ser assim com sentimentos. Afinal, eu bem que tentei consertar minha intensidade, amar menos, ser puro e perfeito e só ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas é viver mal assombrado.

JYLF.

quarta-feira, 18 de maio de 2011


Eu te amo ontem, eu te amo agora, eu te amo amanhã. Eu te amo quando as pessoas me olham estranho, suspeitando de algo. Eu te amo quando você usa aquela camiseta vermelha ou aquela branca que te deixa com tanta cara de homem e olha pra mim quando não quer olhar. Eu amo qualquer coisa que venha de você. Eu te amo independente do amor. Eu te amo até mesmo quando é considerado errado te amar.  Eu te amo e continuarei a te amar quando for proibido, quando for permitido, quando você quiser e principalmente quando não quiser e precisar. Quem sabe um dia você precise do meu amor tanto quanto eu preciso te amar.

JYLF

segunda-feira, 16 de maio de 2011


Eu mastigava com culpa o sexto chiclete de framboesa do dia. Não era culpa, era ansiedade. Não, era tédio. Todo mundo trabalhando, todo mundo conversando longamente sobre coisas que não me interessavam nem por um segundo. As chatices dos clientes, as chatices do trabalho, as chatices do trânsito que aguardava os que estavam indo embora. Minha vida não é chata. Desde muito novinho decidi que minha vida não seria chata. Eu inventaria um trabalho, uma casa, um dia, um modo, um jeito. E inventei. Cheguei em casa e tinha mais uma vez a comida incrível da minha mãe. Aniversário da minha cunhada, festinha familiar, comida boa e bebida. Eu não bebo. Quer dizer, agora, de vez em quando, comecei a beber só porque entendi quando me falavam que sem álcool é tudo muito pior. Então passei a beber pouco. Um gole de licor, um quarto de taça de vinho? Mas eu não queria beber porque não tinha comido e também porque não estava a fim. Eu estava a fim de ir embora. Mas pra onde se eu estava em casa? Queria voltar para as minhas fantasias que não eram chatas, ao contrário da vida que ficava chata quando percebia que eu tinha uma vida dentre todas aquelas vidas que se faziam perceber. Deitei na cama. Fechei os olhos. Fantasia, fantasia, fantasia, Thiago. E a porta se abria. Você chegou. Eu não te via há menos de duas horas e lembrava exatamente de cada traço do seu rosto, de cada pigarro da sua voz rouca e do tom vermelho da sua pele gripada. Eu me lembrei exatamente da forma tola e ridícula de gaguejar perto de você e esquecer o nome de todos os CDs que eu tinha de pedir para algum vendedor, a Camila ou o Cesar, mas que acabei pedindo para você por falta de opção. Naquele momento estava tocando Adele, e ela dizia: So I won't let you close enough to hurt . Foi então que o narrador do meu cérebro pigarreou e mudou o tom. Eu me narro tudo desde que me tenho por cérebro. Como se o tempo todo eu me contasse e contasse o mundo. Para ver se eu existo e se o mundo existe. Para ver se eu me suporto e se suporto o mundo e se o mundo me suporta. É insuportável, mas o tempo todo minha cabeça narra tudo. Minuciosamente, detalhadamente, dolorosamente. O tempo todo eu cavo o segundo, o sorriso, a pele, o que se diz, o que se parece. Tentando narrar o mais profundo do profundo do que eu poderia narrar. Só para responder o mais profundo do profundo do que eu poderia perguntar. Abri os olhos, sai da fantasia e caí na lembrança. Ai. Dói! Lembrei. Então o narrador começou dizendo assim “e então ele estava lá, parado”. Você estava parado. Eu apertei os braços contra o peito, sabendo exatamente a dor que viria depois e pensei: “É ele! Ai, meu Deus, é ele”. Quem, Thiago? Ele. O último, o único, o mais importante. Você era o único homem do universo que me fazia sentir e querer coisas que eu nem sabia que existiam, sonhar com elas e me arrepender por elas depois, quando a realidade gritava alto e dançava na minha frente. Com seu cabelo lindo, espetado atrás, descendo pelo pescoço vermelho. Eu amo seu cabelo. Amo os fios bagunçados espalhados na parte de trás. E eu vejo duas ou três meninas que passam e te olham e te medem e olham pra mim se perguntando o por que eu devo parecer um papel de parede sem cor, tamanha sensação esmagadora que me diminui perto de você. Elas olham de novo. Eu percebo todas a sensações que você causa nos outros. Alguns sorriem, outros te admiram calados, outros comentam baixo. E, apesar da pontinha de ciúme, eu fico feliz, porque eu gosto que gostem de você. Porque você é o cara que, quando vai embora, me deixa sentindo uma dor bem enorme, mas eu gosto de você, você não faz por mal. Seu mal nunca foi por mal. Então, eu gosto que gostem de você. E o narrador me narra seus tênis sempre tão clichês. Seus dedos e unhas roídas, tão perfeitos para carinhos. E narra sua roupa de menino descolado. E narra o segundo em que você me percebe no ambiente e faz que sim com a cabeça, num cumprimento silencioso que preenche todos os espaços. E a voz narra todas as infinitas vezes em que você passou por mim, esperando que eu simplesmente concordasse com seu “oi” cordial. Preferindo que eu não te olhasse, ou sei lá o que mais que eu faria para ficar te imaginando e amando assim. Então, cansado de te narrar, chamei firme seu nome, com um sorriso maduro. Mordendo a língua que tremia batendo no céu da boca. Minha língua, quando te vê, quer logo te dizer coisas lindas. Então é uma luta prendê-la no céu, deixando na terra apenas meu cordial “oi” que você queria sem querer. Errei todos os nomes, falei todas as besteiras, revirei infinitamente meu cérebro buscando algo menos idiota ou qualquer comentário menos imbecil que me prendesse ali por mais um minuto. Um único minuto. Você com sua mania de conversar me olhando de lado, acho que se perguntando o por que da minha insistência. Eu vesgo de te ver tão perto. Seu charme míope e seguro. O menino seguro que conversa colado na minha retina. Eu o menino inseguro na sua presença. Que insegurança é essa? Eu não te pergunto mais nada, apenas desejo tanto você que sorrio como se não me importasse com sua existência. Mas você... sei lá, todas as vezes que te vejo tão de perto, que recorro a você por qualquer coisa, parece que seus olhos estão sempre me perguntando algo.  E começa a loucura que me faz gostar ainda mais de você. Empurro a palma da mão contra o peito e vou embora. Segurando minha garrafinha de água. Só uma garrafinha de água, mas eu fico sonhando com você e pensando nas bolhas e nos gelos e nos canudinhos e na transparência e se a água era isso ou aquilo. Água é só água, por que você complica a água, Thiago? Me pergunto fechando os olhos, escurecendo o mundo. Então apagaram a luz e eu quis me esconder dentro da sua jaqueta preta e ouvir suas batidas descompassadas e embaladas pelo seu cheiro de alma boa. Mas acho que o máximo que você faria seria apertar a minha mão e dizer que uma mão, muitas vezes, é apenas uma mão. Mas que eu insistia em enxergar os buracos entre os dedos, os anéis que separavam os dedos, a dor da separação dos dedos, a gota da água gelada entre os dedos. E que você não poderia aceitar, entender ou suportar isso. A maneira como eu te olhava. Vendo mais, inventando mais, complicando mais. E eu quis te dizer que tudo bem, eu seria um menino simples. Eu mataria meu narrador, minhas possibilidades, meus mundos, minhas invenções. Só de ver seus fios dourados emoldurando meus segredos eu desejei não ser mais eu pra ser qualquer coisa que pudesse ser sua. Mas enchi meu peito surrado e murcho de coragem e percebi que, infelizmente, você é um copo d’ água e eu a tempestade.

JYLF

quarta-feira, 11 de maio de 2011


Eu sabia que isso mais cedo ou mais tarde viria. Vem sempre depois do tô ótimo, melhor do que nunca. Vem sempre depois do tô aliviado, do melhor assim. E então, quando abafa o grito alegre, abaixa o tudo de bom que sou, recolhe a corrida pelo nem é comigo, chega essa notícia insuportável me lembrando que ficamos pra trás. Chega o anúncio repetitivo do não vai ser nunca. A sensação sufocante de que nada vai mudar a meu favor e de que eu tenho que me conformar em te amar mas não te ter. Deixar a dor vir é como receber o jornal de amanhã com notícias velhas. E vem essa vontade de ir até a serralheria do meu bairro, com cortantes apodrecidos, e pedir: serra eu até eu ficar como ele quer? Serra eu? Tem como me fazer do tamanho que não afasta? Tem como me fazer na medida do que encaixa perfeita e eternamente?

JYLF

sábado, 7 de maio de 2011


Minha vontade agora é sumir, mas quero chamar você. Me esconder, mas chegar perto e te beijar e dizer que te amo e que você é importante demais na minha vida para eu te esquecer. Sacudir você e dizer que você é um babaca por estar me perdendo dessa maneira e desperdiçando tanto amor. Minha vontade é esquecer você, apagar você da minha vida, mas lembro de você a cada manhã e penso em você para dormir melhor. Então eu percebo: IT’S ME, e minhas vontades são bipolares demais. Só o que não é bipolar demais é a minha ânsia por te ter. Porque sim, eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você.

JYLF

quarta-feira, 4 de maio de 2011


I can't lie, you're on my mind, stuck inside my head
I wanna feel your heart beat for me instead
I just die so much inside now that you're not there
I wanna feel your heart beat

I Can't Lie, Maroon 5.


Não sei se era você, veja bem, te vejo a todos os instantes saindo e entrando de todo e qualquer lugar, mas nunca, nunca é você. Às vezes são até mesmo umas pessoas bem feias e diferentes e impossíveis de te lembrar. Mas tudo lembra e assim sigo te vendo por toda parte, a todos os instantes.

JYLF

terça-feira, 3 de maio de 2011


Eu que nunca entreguei nenhum dos textos que te escrevi nesses meses todos, então está aqui o meu texto pra você. Pequeno, o menor deles, mas de coração. Espero que um dia a gente se encontre de novo. Quem sabe no futuro a gente se encontre... ou em outra vida. Na rota de renascimentos, dos encontros e dos desencontros. Eu não estava preparado para absolutamente nada do que você despertou em mim, nem você um dia estaria para receber esse pacote tão completo de sensações e sentimentos. Acho que no fundo eu sei que mais do que todas as impossibilidades, você não conseguiria me acompanhar no futuro que eu sonhei pra gente. E eu não conseguiria aceitar as suas verdades. Eu sempre frágil querendo abraçar você, enquanto você sempre forte abraçando o mundo. Mas hoje eu te entendo, eu entendo que não é pra ser. Nunca foi. Nunca vai ser. Mas eu só quero que você saiba que foi muito importante pra mim. Ainda é e sempre será. Isso eu posso afirmar e te falar. Porque você foi mais do que aquele que me deixou de pernas bambas ou abalou as minhas estruturas. Você é aquele que me deu de presente o sentimento mais belo que poderia existir em mim. E sempre, mesmo sem muitas vezes você saber, eu te dei o meu amor. De todas as formas. E foi com você que eu descobri o que era amar, mesmo, de verdade. Obrigado!
JYLF

quinta-feira, 28 de abril de 2011


Dia chuvoso para ir a Liberdade, dia confuso para saber para onde ir. Antes o problema fosse apenas esse centro da cidade, um desses açougues com cartazes amarelos vendendo preços em vermelho. Com pombas em bando na porta, dando cabeçadas sujas no nada. A valeta seca de um canto coberto acompanha o caminho dando um seco também no fundo da garganta. Ônibus bufando no ar carregado de pressas e tosses. Hoje andar na rua cheira mal, pesa, suja, convive. Por essas bandas eu sempre venho de carro, com meu irmão ou com o Diego. E no carro tenho um álcool gel que passo sempre que sinto que o mundo feio me suja um pouco. Tudo me dá nojo. Comecei aos poucos com isso. E foi piorando. A doença não é TOC, antes fosse. A doença é esse achar que tudo é feio e sujo quando não é você. O mundo continua arrogante, preconceituoso, e segue girando enquanto eu me guardo dessas más intenções disfarçadas, nessa solidão desinfetada. Mas de dentro dessas bolhas protetoras, das caixinhas que separam o perfeito do não perfeito, o bonito do feio, o que é de verdade e o que não é, nesse mundo regido pelas regrinhas básicas e ingênuas da emoção, bate alguma coisa desritmada, que me traz impulsos de vida. Um prolapso de sonho. E essa coisa bateu quando eu te vi. O fundo dos seus olhos exalavam um odor de sofrimento que eu não pude evitar. Era doce, muito doce. Mas eu sabia que ia sofrer.  Você pegou pra alguém aquele CD, com aquela música que me dilacerava o coração. Em Dezembro, bêbado como nunca, ao me ver em prantos naquela festa, só foi capaz de aumentar o som do mundo em volta. Naquela noite você estava especialmente sujo. Você sumiu e voltou a aparecer no meio da pista de dança, atracado com uma garota tão suja quanto aquele mundo que fazíamos parte naquele momento. As órbitas dos seus olhos giravam ao som do funk vulgar que preenchia todos os lugares. Sua camiseta preta estava amarrotada e lembro que, ao passar do seu lado, senti o cheiro forte e obscuro de uma bebida que não sei até hoje o que é. Depois, na noite do seu show nesse mesmo centro da cidade que ando agora, você agarrou uma baixinha pela cintura que ficou meio tonta com a ação, mas se deixou levar, óbvio. Se deixou levar como se fosse levada pelos ventos de um deus. E eu pensei exatamente em Deus quando senti a dor rasgar o peito e ao vê-la presa na sua ratoeira. Sempre que essas suas necessidades bicho-homem surgem, me afetam tanto que não sei ao certo como encaixar coerências. Por que se humilhar? Essa pergunta todos se fazem. E eu termino envergonhado e enojado. Porque é tudo tão chato, o certo fica errado de repente, o limpo se torna sujo e respinga nos sentimentos puros, enquanto o mundo dorme em falsa paz. Porque o bonito, o puro, o quase infantil de tão feliz, o saudável, todo esse amor virgem, todos são manchados de álcool, cerveja, suores, batons e perfumes baratos. Tudo que pareceu estar indo, apenas voltou como uma dor que nunca me mata, mas me faz voltar triste. E toda a indiferença com que você age, todo o receio de que eu sinta mais e mais algo que você nunca pediu, toda a distância que suja mais a vida cor de rosa. Mas é estranho como eu consigo gostar da sua sujeira, como eu consigo te amar independentemente da sua galinhagem escancarada, do seu jeito de colecionar garotas em um currículo quase tão extenso quanto o meu amor. Eu gosto de ser seu jamais porque tudo o que podia ser com você, você nunca pode com nenhuma outra. Enquanto você banaliza sentimentos e desejos, eu tento permanecer intacto, amando demais, sonhando demais. Eu não quero ficar aqui, mas também não quero voltar e muito menos quero ir. Então me sufoca só para eu sentir um pouco de alivio. Porque eu sinto todas as hipocrisias do universo de uma maneira tão forte e intensa, que prefiro esse minuto em que eu encaro sua figura de pedra e sinto mais uma vez que eu posso te amar sem medo, ao menos naquele instante. Eu tento não sentir a impossibilidade, eu tento não lembrar que o seu jeito de ser feliz é ter todas e o meu jeito de ser feliz é ter você. Porque se eu me apegar a essa constatação, é nesse momento que sinto o vazio terrível que me violenta e separa, a mim e ao meu amor, de você, para sempre. Eu sei que sou intenso, eu sei que parece exagerado. Porque eu não sei amar, menino sujo. E nem você.

JYLF

domingo, 24 de abril de 2011


Eu olho em volta e não encontro nada. Eu sei que não há nada. Mas olho porque sei que o nada que eu quero está perto, mas tão longe de mim...

JYLF

sexta-feira, 22 de abril de 2011


(...) Eu amo tanto você e amo tanto todas as suas camisetas brancas e seu tênis verde, que quase chorei essa tarde enquanto você falava ao telefone, ali, bem na minha frente. Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão bobo, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes de você aparecer. Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre? Eu descobri tantas milhares e milhares de coisas. Eu descobri que ser inteiro não me dá medo porque ser inteiro já é ser muito corajoso. Eu descobri que ser inteiro é ser gigante. Eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando parado, mesmo que o dia esteja explodindo lá fora. E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo quando a gente se tromba nos armários, e começo a sentir coisas que eu nem sabia que existiam. (...)

JYLF 

terça-feira, 19 de abril de 2011


Eu acordo de uma noite inteira sonhando com você. E lembrando de tudo, de cada detalhe, de cada palavra, de cada gesto, de cada mania, de cada fio da sua barba. Eu choro a minha dor, eu choro a dor do mundo. Saio pela rua e só tenho olhos para os caras que tem a mesma cor de cabelo ou a mesma camiseta de uma banda de rock qualquer. E quando um se aproxima eu peço a Deus para que não seja você, e ao mesmo tempo quero que seja, e às vezes consigo não olhar, me sinto tão valente, consigo por minutos olhar só para frente, não reparo em nenhum ser humano a minha volta. É como se eu estivesse sozinho na avenida, e é nessas horas que corro o risco de ser atropelado ou cair e torcer o tornozelo. Eu ando rápido e atravesso sem olhar para o lado, eu esqueço para onde estou indo, eu vejo você caminhando pelas calçadas e não é você. De repente todos os homens do mundo ficaram idênticos a você, e eu ainda não me envolvi num acidente por um triz, ou talvez já esteja mais do que acidentado para ainda ter que enfrentar essa dor no corpo, de verdade, sem ser apenas uma metáfora. Evito olhar os casais de namorados nos pontos de ônibus, mas tem um painel publicitário em que um homem olha para uma loira com um desejo tão escancarado que me retorço e choro só de imaginar você olhando assim para qualquer mulher. E eu sei que você está, assim como estava no sábado, ninguém precisa me contar. Eu sei como é que você se trata, o que você procura, como leva a vida. Você não chora nem lamenta nada, você sai pelas ruas, você vai atrás de todas as mulheres feito um vira-lata. Provavelmente você está olhando nesse instante para uma mulher, está entrando nela, dizendo a ela como ela é gostosa. Você está me matando e eu morro a quilômetros de distância, a sós comigo mesmo. Você fica com alguém e me mata. Você transa com qualquer uma e me mata. Você goza e me mata mais um pouco. Você dorme e me deixa insone para sempre, e eu sei que não vai ser para sempre, mas eu não enxergo o dia de amanhã, hoje eu só estou acordado pro eterno desse pesadelo. Eu só queria que você fosse meu. Meu, droga, exclusivamente meu. Meu como esse sofrimento.

JYLF

segunda-feira, 18 de abril de 2011


Mais um dia perto, igual faz pouco mais de um ano. Você corre pra cima e pra baixo, tenta ignorar a minha presença, ri com seus colegas, fala com as pessoas, mas alguém pergunta se aceita Hipercard e você descobre que vai ter de perguntar isso pra mim. Chegou a hora de falar comigo.

Você não sabe ao certo o que eu vejo em você, mas também não sabe ao certo o que não vejo. Aí você me chama, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer a resposta para uma pergunta. E eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso ter um cara mais bonito, mais gostoso ou mais inteligente, como de fato já tive a oportunidade milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro seu riso de menino e seu jeito homem de ser. Você é uma criança, um bobo alegre, um galinha. Mas você é você. E talvez seja só por isso que eu ainda te ame: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.

Então eu olho pro seu dedo estranho, pros pêlos loiros do seu braço e pro seu cabelo dourado e penso que tudo vai dar certo. E eu tento encontrar um motivo, mas descubro que seus atrativos se apóiam uns nos outros. Você me atrai como um todo, como uma soma insubstituível de atrativos.

Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba aturando os acontecimentos corriqueiros que nos obrigam a falar um com o outro. Sempre os mesmos assuntos de mais de um ano que, assim como a sua risada, nunca cansam ou enjoam.

E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e indiferente você mal olha pra mim e vira pro lado pra voltar à sua bolha de tudo o que é seu, eu sempre me apaixono por você. Todas as vezes que te vi, nesses últimos treze meses, eu sempre me apaixonei por você. Eu sempre estive pronto pra começar algo, pra viver de verdade, pra passear de mãos dadas no parque, pra poder te apresentar ao sol sem ser interrompido por essa gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma música nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio das suas meninas fúteis e vazias, porém bem mais gostosas do que eu. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque eu continuo voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu tenho exatamente o que você precisa, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.

Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele, vou escovar a língua pra tirar o gosto que seu nome causa na minha boca e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui alguns dias, igual faz há um ano, você vai me procurar. Seja pra dizer um oi ou pra fazer alguma pergunta boba. Seja pela rotina ou pela obrigação. Querendo saber de algo, querendo se esconder como sempre. E eu estarei lá, para o que der e vier, para ser ou fazer o que você precisa. Eu estarei no mesmo lugar, esperando. Não porque eu seja um idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Apenas porque você me faz acreditar na felicidade, mesmo ciente de todo o sofrimento que me espera. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.

JYLF

domingo, 17 de abril de 2011

Virada Cultural, madrugada de sexta-feira para sábado. E sabe, mais uma vez eu vendo o que não queria. Lembrei-me do dia 11 de Dezembro de 2O1O, festa da Cultura. O sentimento foi o mesmo. O dilaceramento também. A carta abaixo foi escrita um dia após a festa, mas a intensidade dessa dor é a mesma cada vez que lembro. Dói. Muito. Mas estou aqui, esperando. Esperando não sentir mais. Esperando, porque é o que resta.

Em 12 de Dezembro de 2O1O.
(Um dia após a festa da Cultura...)

À direita da pista tem um bar e em frente ao bar tem um sofá. Estou sentado nesse sofá. Aguardo ansioso por algo, olho as horas no celular, tento prestar atenção nas pessoas à minha volta, reclamo com minha amiga: “cadê?”. Ela me pergunta se é o show, se é o garçom a passar com a comida. O que é? Não sei, mas não estou encontrando. Em cima da pista tem um daqueles globos que sempre tem. Olho para o globo e penso que estou uma eternidade sentado naquele sofá. Descanso os cotovelos nos joelhos e me arrependo; enquanto todos querem ver e ser vistos, eu fico nessa posição feia de vaso sanitário. Minha amiga vai beber. Eu me animo, afinal já tenho para onde ir. Eu não bebo, eu odeio tudo que seja alcoólico, eu odeio atravessar a festa inteira para chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio festas em geral, eu odeio papos de festa, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo e sorrir para os papos mais furados do mundo. Mas eu já tenho para onde ir. E vou. E ao chegar lá fora, continuo procurando. Sinto falta do sofá agora. Mas quando minha amiga acabar a bebida, já terei novamente para onde ir. E assim a festa tão esperada vai se tornando uma daquelas festas chatas, que me lembram muito a vida sem ele. A eterna oscilação entre ir lá fora ver, passar pela pista e voltar para o sofá, sempre só para ter para onde ir. Chegou agora um cara. Ele já até se declarou pra mim, mas eu não o quis. Ele se aproxima malicioso na pista de dança, eu faço uma gracinha e desvio. Ele me olha e respeita minha centésima recusa. Ele me abraça e eu não sinto nada. Nada. Nada, não, pensando bem, sinto sim. Falta de que aquele abraço fosse de outros braços. Mas cadê? Olho de novo as horas no celular. Eu posso ir ao banheiro e isso já é um lugar para ir. Me animo. Não, não me animo. Tudo me deprime. Eu ficar me equilibrando em cima de um coturno plataforma, eu suportar os olhos encarando meu short curto, eu ficar fazendo minha cara de “não encosta em mim”. Tudo me deprime. As pessoas falando do trabalho, as pessoas forçando falar qualquer absurdo só porque o óbvio seria falar de trabalho. E principalmente: os grupinhos de moças com roupas justas, disputando o prêmio de roupa mais curta da noite. Tudo é tão chato, mas eu me produzi inteiro. Antes das quatro não dá para ir embora. Preciso me gastar um pouco para não dormir tão antes de tudo dar errado. Eu sei, eu deveria beber. Mas para quê? Para achar essas pessoas legais? Para suportar o insuportável? Sou cínico demais para dar esse gostinho ao mundo. E eis que finalmente encontro. O rapaz que, a menos de vinte e quatro horas, se desmanchava em um sorriso ao ver os presentes que escolhi só para causar esse efeito. O rapaz que cuidava de todos os meus pedidos, que dizia meu nome com um eco interminável e que, vez ou outra, me olhava de canto de olho quando nos encontrávamos no mesmo andar. E do nada surgiu uma dessas mocinhas de roupas justas e curtas, falando com ele ao pé do ouvido. E meu Deus, como doeu! Doeu. E ele estava lá, lindo, rindo. E ele só reforça meu pé inquieto batendo ritmadamente: “cadê?”. Não sei. Não, não se esconde mais. Olho para a porta por onde ele acabou de passar. Eu fui à festa por causa dele. Então era isso, eu estava procurando o tal do moço que estava flertando com outra. Ele nota minha presença, mas não diz uma palavra. Será que ele sabe o motivo de eu estar ali? Ele olha para mim, faz que vem em minha direção, mas desvia para o bar ao ver tanta gente à minha volta. Meu coração quase sai pela boca. Ele volta para o grupinho onde todo mundo se elogia, fala de trabalho, conhece gente, faz piadinha ruim. Mas tá todo mundo pensando o que vai ter para comer e também para comer. Eu vim aqui porque, sei lá, desde que te vi pela primeira vez e vi o seu jeito fofo de falar, eu fiquei com vontade de ser seu. Então, não dá para pedir para esse bando de amigos chatos desaparecer do mapa? A menina atirada de roupa justa e curta, com celulite na perna, por favor, te deixar em paz? Você pode, por favor, parar de mexer no cabelo dessa menina e parar de dar risadinhas no ouvido dela para sumir daqui comigo? Não, ele não pode. Ele não é a resposta. Ah, Thiago, você deveria saber. Eles nunca são a resposta. Nunca foram. O que é que você quer? Por que você olha tanto para o celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? Sim, ele é a resposta. Ele e mais ninguém. Nem o sofá, nem a festa, nem ficar em casa, nem a água com gás, nem olhar com nojo para o grupo de piriguetes vips que não prestam para nada a não ser freqüentar festas para aparecer. Mas cadê ele? Ele está lá, perdido na boca dela. E eu? Eu ali, assistindo tudo, o coração dilacerado por cada beijo interminável. Mas esse era o previsto. E afinal, a maquiagem tinha custado cara demais para eu ir para casa antes de borrá-la. Cadê? Ah sim, agora eu tenho o que procurar e o que esperar: o carro. A verdade é que a única coisa que estava esperando e querendo era ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Agora não estou esperando mais nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou.

JYLF 

sexta-feira, 15 de abril de 2011


Tantas, mas tantas coisas aconteceram e me machucaram e me dilaceraram. E eu chorei. Chorei porque eu precisava te mostrar minha fragilidade escondida na minha postura blasé. Eu chorei porque, vez ou outra, alguém ainda tenta tocar a minha alma e eu não  deixo entrar, e eu sei que isso é medo do tanto que você habita todos os lugares. Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. Chorei do cansaço profundo de sempre esperar por você e você nunca chegar.  Chorei de apego ao cheiro novo desse amor tão velho e surrado. E chorei porque a minha vida envelhece, o tempo passa e se perde, por saber que essa vida perdida não tem volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor da distância, de pavor do fim, de pavor de sair da rotina e me deparar com outros fins. Eu chorei. Eu chorei meu medo de submissão, o meu medo de você me ver chorar, o meu medo de mostrar tanto pra você, tanto, e não ter mais o que mostrar. Eu chorei por um milhão de coisas e o medo de você não querer abrir as mais de um milhão de gavetas que existem escondidas no baú cerrado que eu guardo no peito. Eu chorei sem você. Eu chorei o meu fim e o medo do meu infinito. Tenho chorado por treze meses. E eu chorei treze meses escondido, porque eu não sei a hora de parar e não quero que ninguém além de você me diga.

JYLF

quinta-feira, 14 de abril de 2011


Ainda estou lembrando os minutos atrás. De quando você estava indo embora, olhou da escada e perguntou pro seu amigo: não tô esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu. Eu sempre fui seu. Eu já era seu antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer. E você me olhou daquele jeito fofo que você sempre olha o mundo e eu me esqueci de como respirar. Você deu tchau e eu quase te pedi tantas coisas. Não faz isso. Não me olha assim.  Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é só um garoto diferente. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só porque o seu sorriso é tão gigante.  Não me deixa assim, suspirando pelos cantos, só porque suas bochechas estão tão rosadas que me dão vontade de morder. Não solta o seu “Hum!?” ou o seu “Beleza!” só porque sussurrei seu nome. Não transforma assim o mundo em um lugar tão mais bonito e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso e que nenhuma palavra que saia da sua boca seja em vão. Tento absurdamente me convencer de que isso que sinto não é amor, mas também não sei o que é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. Aquele cara mais velho, e aquele outro com charme de galã, o outro que toca bateria, e aquele outro que faz Cinema, aquele outro casado, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz cara, você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado. Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande moleque. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo. Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre. E eu soquei meu coração até ele diminuir, só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de colega de trabalho indiferente, só pra ter você aqui sem medo. Medo de me confundir mais uma vez, meu medo de estragar esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor. E eu vou rir quando qualquer outro me contar das suas meninas. E eu vou continuar dizendo “oi, tudo bem?, boa tarde!, que CD legal!, bom show!, tchau!”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque é isso, tenho sempre de tomar cuidado perto de você, tenho sempre que escrever com letras maiúsculas: NÃO EXISTE NINGUÉM AQUI DENTRO. Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém me olhar, meio que sem querer, acho que você vai perceber que é o meu dono. E eu não vou enganar ninguém sobre isso, eu vou deixar. Vai que um dia você acredita? 

JYLF

domingo, 10 de abril de 2011


E se a fisionomia de uma pessoa fosse tão sagrada para você a ponto de se inscrever permanentemente em sua memória? E se o cheiro, o olhar ou o toque dela tivessem mais valor do que sua própria vida? Eu penso nele dessa forma. Eu coloco qualquer parte da vida dele acima da minha própria vida. Porque eu não posso viver em um mundo no qual ele não exista. Tudo poderia acabar: o amor, a esperança, a fé, a vida, tudo eu suportaria. Desde que ele continuasse existindo...

JYLF

segunda-feira, 4 de abril de 2011


A idéia de hoje era te pedir um favor. Eu apenas chegaria até você e pediria dez minutos. Eu entregaria uma das trezentas e oitenta e três cartas que escrevi ao longo desses trezentos e oitenta e três dias. Na verdade eu a leria pra você, para depois poder queimá-la ao som de uma música bem melosa e aos prantos. Segundo a Luina, isso seria o suficiente para exorcizar o seu fantasma. Faria isso sem oi, sem tchau, sem coisas feitas ou a fazer. Eu não esperaria nada. Nada de você, nada da sua vida. Nada que constatasse reciprocidade. Apenas a sua voz. Esse é só um dos absurdos que passam pela minha cabeça quando me salta você no peito. Como se meu coração fosse uma dessas caixinhas surpresas e você o boneco de mola para assustar crianças. Elas se assustam, mas riem e abrem de novo e de novo a caixa. E amam mais e mais o brinquedo.

Acabei de ver Santiago, o documentário, e tive um acesso de choro daqueles. Ele escreveu sobre toda a aristocracia do mundo e isso arrasou comigo. Arrasou. Ele era o garçom das festas, uma pessoa que servia feliz a uma beleza triste. E no final, não sei se você viu o filme, mas ele quis contar algo pessoal e o apressaram, cortaram, o que ele realmente queria dizer parecia não ter importância. E quase, quase quis te pedir um favor. Mais uma das minhas idéias. Pra você, por alguns minutos, só enquanto eu chorava demais, pra você fazer de conta que abismos não existem. E não existem mesmo, nesses segundos descabidos das horas que não entram no dia. Porque agora, nesse segundo que corri aqui para te escrever, nesse momento não existe essa coisa de hora e de trezentos e oitenta e três dias exatos. Existe só que vamos todos morrer, então para que mesmo o orgulho de sair ileso mais um dia? Mais um dia ileso. Como se não fosse cheios de feridas que raspamos com as costas das mãos as nossas roupas de guerra e dormimos em paz.

Outro dia tive uma idéia. Uma vez por semana, perto das dez horas da noite, eu chegaria sem dizer nada e você também não poderia dizer nada. E então eu sentaria perto e ficaria te olhando um pouco. E aqui não tem nada de idiota não, é bonito, isso que eu quero dizer. E depois acabava mesmo. E isso voltaria a acontecer somente na outra semana. E isso seria um contrato já que meu coração quer tanto. Pro resto da vida. E tudo bem pra você, vai? Sim, seria um contrato, mas olha que maravilha: os outros seis dias sem nada, sem nenhum rastro meu na sua vida. E seria só por uma hora.

Hoje eu estava no estacionamento do shopping e fiquei seguindo as plaquinhas de saída e vi que é isso que faço melhor do que ninguém. São tantas as coisas que eu queria te falar e contar. E eu sigo fantasiando que você é melhor que o restante do mundo. E isso acaba comigo, mas, ao mesmo tempo, me tira um pouco da chatice burra e apática de sempre. E então, me vem a idéia de realmente te contar as coisas. E por isso escrevo. Porque se você um dia entrar aqui para ler é você que, com todo o meu amor que você nem imagina, consegue sentir como sendo seu o meu coração. E então é mesmo essa coisa maluca de eu me livrar do que eu nem sei porque sinto por você, sem nem saber o que você sente, sentir o que já estava aí esse tempo todo.

Hoje eu perguntei a um amigo: Você era feliz com ela? E ele disse: Eu era muito feliz com ela. E muito triste. Sem ela eu não sou nem uma coisa e nem outra. Eu sorri e disse para ele: eu prefiro a vida assim. Ele disse: prefere mesmo? Eu respondi, comendo um pão de queijo: não, não prefiro, mas pelo menos, assim, eu consigo estar aqui conversando com você pesando mais de cinqüenta quilos.

São, sei lá, três e pouco da manhã. Tenho passado boa parte de tudo anestesiado, sem doer, sem sentir tão forte. Às vezes nem parece que aconteceu, porque amar dói tanto, tanto, tanto, que como toda dor, de tão insuportável, produz anestesia própria.  Mas o tempo todo, ainda penso e te mostro tudo,  o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo. Não porque sou um bobo apaixonado. Não porque sou transparente perto de você. Apenas porque apenas.

Lê pra mim um livro. Toca qualquer coisa na sua guitarra. Com a luz apagada. Quando alguém me liga eu fico cheio dos risinhos idiotas porque tiro sarro de quem tenta falar algo e não sai como sairia se fosse você. O maior elogio que eu poderia fazer a uma pessoa era dizer assim: gosto de você além da minha imaginação, não porque aprendi a gostar, mas porque por mais que eu sonhe, você é ainda melhor que o sonho. Você é além da minha capacidade em te imaginar. E eu jamais te diria isso. Não posso te fazer esse elogio. Mas olha, ainda assim, olha eu aqui de novo. Porque você é melhor que a minha imaginação, você é melhor que a minha esperança. Para falar a verdade, é incrível como ao olhar para você, tenho certeza de que sonhei com muito menos.

Mas é isso. Um filme com o maluco do fraque e das castanholas me emociona e pronto. O boneco salta da caixinha e espanca meu peito com cabeçadas duras e olhar macabro. A hora que não entra no dia. E eu mais uma vez preferindo não sair ileso para me sentir menos machucado. Você pode, uma vez por semana, me deixar te olhar, brincar do não abismo, qualquer coisa, só ler, continuar assim, só tocar, não me esquece, por favor. Eu nunca vou esquecer você. Eu nunca soube o que não fazer com você, mas sei exatamente o que fazer com você. Pra tentar te fazer feliz. Isso eu saberia fazer e faria bem. Lembrar que é terrível e incrível. Terrível, esse amor, como poucas (ou nenhuma) coisas foram. Mas absolutamente incrível.

JYLF

quinta-feira, 31 de março de 2011


Eu só queria agora teu colo para encostar minha cabeça e ter um pouquinho de paz, de felicidade completa.

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segunda-feira, 28 de março de 2011

28 de Março de 2O11.


Feliz Aniversário, meu amor.

“Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.”
(Caio F.)


Eu queria te dizer tanta coisa. Te fazer tanta coisa. Mas eu, você, a vida ou sei lá o que, não permite. Eu poderia dizer novamente que te amo, como já disse milhares de vezes nessas linhas. Eu poderia dizer outras tantas coisas lindas para eternizar o que te desejo. Mas nada seria bom o suficiente, bonito o suficiente e acabaria traindo o significado de algo tão imenso e puro. Enfim, eu só desejo que você sorria o seu sorriso mais lindo, todos os dias. Para sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando.

JYLF 

domingo, 27 de março de 2011


Agora estou te amando quietinho, sem escrever cartas, sem discar o seu ramal, sem passar na sua frente. Afinal, do que adianta gritar pra meio mundo ouvir o quanto nós temos que ficar juntos, se você não é capaz de mover um dedo pra que isso seja possível? De quê adianta eu chorar de ciúme quando mais uma menina vazia se aproxima de você cheia de segundas intenções, se você não dá um passo em minha direção pra que elas vejam pra onde o seu destino aponta? De quê adianta ter toda a certeza do mundo de que você é o homem da minha vida, se eu não faço parte da sua vida?

JYLF

sexta-feira, 25 de março de 2011


Eu permaneço, mesmo sabendo que coloco em risco a vontade dessas coisas que faço e me soam tão bem. O ballet, por exemplo, que faço às segundas, quartas e sextas, uma hora depois de tomar café com a minha mãe. Isso me parece um pedaço agradável de uma agenda encantada, de dias felizes, nada demais. A aula de fotografia de Moda das terças e quintas, a costura até altas horas, os almoços com o Cesar e a Jéssica, as aulas esporádicas de piano, o japonês com o Diego, meu emprego que toma boa parte do meu tempo, o costume de escrever até tarde ouvindo músicas que marcam fundo, os mocinhos que aparecem em intervalos de dois ou cinco dias, e me abastecem de pedidos vazios de ficadas ou namoros superficiais, um convite para algum bar chato que serve para me tirar de casa e até mesmo rir de um ou outro ser humano mais parecido com o que eu acho que deveria ser um ser humano. Nada disso me soa banal e aprendi mesmo a chamar de minha vida. Mas sei lá, acho tudo idiota e até mesmo medíocre. O ballet, os almoços, os bares, tudo uma tortura. Ainda assim, mesmo sabendo que depois é cheio de dor que carrego minhas horas, ainda assim eu fiz a unha e comprei uma camisetinha preta em promoção. Ainda que sentir de verdade pareça uma outra vida, às vezes cansa viver dentro das coisas que invento. Com você, mesmo eu inventando tudo também, dá para ter essa sensação de desordem, atropelamento, a vida dizendo e não minha cabeça falastrona. Mesmo sendo ofensivo para minha existência que pessoas como você existam. Mesmo que sua indiferença e preguiça e distância mostrem para minha frescura de sentidos como tudo pode ser amargo e pior, mostre que tudo sempre foi como é, e eu é que, vai ver, sou forte ou abençoado demais para não sucumbir logo no início. Mesmo que sua alegria nunca seja por mim. E que sua alegria por qualquer outro ser humano do planeta toque tão fundo minha alma, que seja impossível tornar minha vida intolerável. Sua existência é um absurdo e isso é a maior verdade que me vem à mente quando penso em você ou estou ao seu lado.

Passamos tardes juntos. Dias juntos. Longe. Perto. É leve e eu fico quieto, coisa que nunca acontece com qualquer outra pessoa. Com os outros sou espuleta, como diz minha mãe, mas perto de você fico muito quieto, até demais. Talvez seja porque eu não tenho mais a euforia louca de ser amado, porque amo tanto, mas tanto, que amo pelos dois. Eu incho de felicidade quando alguém me ama e ao ver em você a calmaria dos vencedores corriqueiros, desisti do resto do mundo. E acaba sendo boa a sensação de tarde ordinária, encontro ordinário. Eu pude habitar o papel de simples colega de trabalho, de pé ao seu lado, uma forma de ouvir sua respiração que amo como se fosse o único sopro saudável do mundo. Eu permaneci e isso foi diferente, triste, insuportável, mas possível. Como os mortos que ficam em qualquer lugar, até mesmo embaixo da terra. Morto não deseja e por isso mesmo permanece. Acho que o seu desejo nunca será igual o meu, já que boa parte desse amor enorme que eu sinto por você vem da minha alegria desmesurada em me sentir amado pelos meus próprios sonhos. Você me acalma tanto, me perturba tanto e é uma loucura tudo isso. Às vezes eu queria me vomitar e explodir e rodopiar em mim até furar o chão como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o único pião que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno para não enlouquecer sozinho. É uma loucura sentir tanto. Mas os dias e as situações me impelem a ficar perto, calmo, quieto, me impele a habitar cada instante do estar me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver, mas viver é terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amado por um cara qualquer, era ainda mais terrível. Daí que sobra essa sensação de impotência filha da puta, mil vezes maior, pois em nada dá para ser com você. E tudo bem, até pode não ser você, pode ser que nunca foi e nunca será, mas escuta o absurdo: é que nada disso impede que eu sinta um amor imenso por você. E nada impede que eu tenha certeza de que é você, sim.

Me peguei uma hora, olhando você andar, tão malandro, seu olhar percorrendo tudo tão discretamente, e senti que cada dia que passa mais e mais é uma concha o que você se torna. Dessas que é mentira a pérola e o som do mar, mas eu os vejo, o tempo todo. Você andando desse seu jeito que tira meu ar, com essa sua calça meio caída e o jeito de passar a mão na cabeça. E repete a mesma camiseta dia sim, dia não quando pouco se importa. Eu sei, eu entendi. E as cervejas nesses bares, as galinhagens de moleque que não permitem admiração nenhuma da minha parte. E você é tão errado e cheio de estragos, tão distante mas tão próximo do meu príncipe. E me peguei olhando para tudo isso e amando tanto, tanto, tanto. Como se nada mais no mundo fosse tão bonito ou correto ou mesmo perfeito, porque perfeito é o que não tem mesmo cabimento. O resto nem existe porque vemos ou explicamos.

Nesse mundo sem céu, no espaço infinito dos pequenos momentos, certa vez, você me olhou incógnito e me deu um abraço desajeitado. O abraço que disparou corações em mim como se eu tivesse um em cada terminação nervosa do meu corpo. E me disse, com sua voz tão bonita, a mais bonita que eu já ouvi, que me desejava tudo de melhor. Naquele momento entendi que eu estava tentando subir todos os seus andares. Eu entendi que você era o homem da cobertura de aço e eu uma espécie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi também que agora que tinha chegado ali, só me restava pular, já que ninguém agüenta o alto tão alto muito tempo. A vertigem que é esse amor. Minhas olheiras, meu cansaço, meus cinqüenta e oito quilos. Eu posso morrer porque você tem essa gengiva saliente e o dedão estranho e isso me impossibilita, dia após dia, de viver sem sentir você o tempo todo. Mas quem é mesmo que morre dessas coisas? Não, não podemos, com tanta coisa para fazer. Os bares e almoços, o ballet, a costura, os empregos, as fotos e o piano, escrever, tudo isso que é minha vida antes e depois de você. Tudo isso que daqui a pouco, quando a sensação desgraçada de absurdo e solidão passar, tudo isso volta, se acomoda, a agenda mágica, o gostosinho no peito, aceitar você perto, aceitar o fato de não conseguir te esquecer, mesmo te perdendo um pouco todo dia para a vida. Mas agora, hoje, guarda isso: eu amo demais você. Por que escrevo tudo isso? Porque é a minha vingança contra todas as palavras e sensações que nascem e morrem todos os dias, antes de serem expostas, mostrando pra gente que nada vale de nada. Toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pro meu amor e pra gente.

JYLF

quarta-feira, 23 de março de 2011


Essa manhã coloquei tudo em uma caixa: o bonequinho do Pequeno Príncipe, as fotos, aquele CD da sua banda que você me deu, meu diário que só tem você. Olhei para o Pequeno Príncipe antes de fechar a caixa e ele parecia me olhar triste, passivo e impotente, assim como eu também olhei para ele e assim como tenho olhado para o mundo. Dei um abraço forte no boneco e chorei que nem uma criancinha de cinco anos que sofre porque está com rinite alérgica e tem que tirar os brinquedos de pelúcia do quarto. A realidade acabando com a brincadeira mais uma vez. Depois foi a vez das fotos. Beijei uma por uma e guardei na caixa, colocando-a em um canto escondido e alto do armário da minha mãe, no mesmo canto escuro e esquecido por onde anda meu coração. Olhei minha roupa nova e pensei o quanto ela era feia porque eu nunca a colocaria para você. Olhei meus sapatos novos e pensei como seria triste usá-los sem nem saber direito para onde ir. Olhei minha velha cara no espelho e tive muita pena do quanto aquele rosto ainda ia esbugalhar os olhos para o teto lembrando de você. Vire e mexe tenho essa vontade de cortar alguma parte do meu corpo, para ver se esguicho para longe esse sangue contaminado que incha meu corpo de dor e me emagrece de vida.

Tenho vontade de me fazer feridas porque parece mais fácil cuidar de um machucado externo e curável. Outro dia desses eu estava numa padaria com um amigo e ele me perguntou se eu queria um chaveirinho de porquinho, eu disse a ele que só queria morrer, se ele poderia me fazer esse favor. Coitado, ele ficou assustado. No outro dia eu estava num bar com esse amigo e ele começou a falar de todos os filmes, livros e músicas que eu tanto queria que você falasse. No final da noite eu só queria estar ouvindo aqueles CDs do Foo Fighters, Queens Of The Stone Age e Ramones, tudo pra te ter mais perto. Esses intelectuais de merda não chegam aos pés do seu sorriso e nunca vão ter de mim esse amor tão puro, tão absurdo e tão sem fim que eu tenho por você.

A fidelidade não é uma escolha e nem um sacrifício, ela é uma verdade. Por mais que eu tente, só sinto nojo. A gente nem se fala direito mais, eu nem sei mais o que você pensa de mim, eu até tenho o impulso de tentar com outros homens, mas eu só sinto nojo. E a minha cachorrinha, a Audrey? Ela sempre me olha com carinha de compaixão todas às vezes que chego do trabalho triste. Outro dia minha mãe perguntou notícias suas e quando ela ouviu seu nome, enfiou a cabeça no meio das patas e só ficou triste. Ela se parece comigo mesmo. Acho que ela já reconhece seu nome e meu sentimento por você, de tanto que me acompanha nos momentos solitários de choro. Depois do passeio na Liberdade com meu amigo, tive um encontro com minhas amigas no café alí do Itaim. Depois fui cinema com outra amiga e depois, se eu estivesse afim, um barzinho com o pessoal do trabalho. Eu tenho um milhão de motivos para fugir de pensar em você, mas em todos os lugares você vai comigo. Você me olha misterioso quando chego, diz meu nome com um eco que dura o dia inteiro e vira o rosto sem graça quando percebe que estou te olhando. Você prefere não ver, mas eu vejo você o tempo todo.

Eu torço para não fazer Sol, eu torço para não chover, eu torço para acordar no meio do dia, eu torço para o dia acabar logo. Eu torço para ter alguma coisa que me faça torcer, que me diga que eu ainda sei torcer por algo mesmo sem torcer por mim com você. Minha dança é queda equilibrada, minhas roupas novas são fantasias, meu sorriso é espasmo de dor, minha caminhada reta é um círculo que sempre me traz até aqui, meu sono é cansaço de realidade, meu silêncio é o grito mais alto que alguém já deu, minhas noites são clarões horríveis que me arregaçam o peito e nada pode me embalar e aquecer, o frio é interno, o incômodo é interno, nenhum lugar do mundo me conforta. Minha fome é sobrevivência, minha vontade é mecânica, minha beleza é esforço, meu brilho é choro, meus dias são pontes para os dias de verdade que virão quando essa dor acabar, meus segundos são sentidos em milésimos de segundos, o tempo simplesmente não passa.

Às vezes tento não ser eu, porque se eu não for eu, eu não sentirei essa dor. Mas o amor é tanto que até os outros todos que eu posso ser também o sentem. Hoje mais que ontem, amanhã mais que hoje, e por aí vai. Tenho vontade de implodir esse gigante dentro de mim e soltar seu pó a cada manhã sem fome que faz doer o corpo todo, a cada banho sem intenção, a cada tarde sem recompensas, a cada noite sem magia, a cada madrugada sem paz. Um dia o gigante vai cair morto igual ao King Kong e chega dessa dor, dessa incerteza, desse silêncio, dos dias se arrastando, do ódio, das imagens doentias na minha cabeça, da saudade espada que fura meu centro e aumenta o diâmetro a cada movimento. Só vai sobrar uma tristeza eterna em saber, como todos que já viram esse filme sabem, que o rei da selva, o dono do pedaço, o forte, o poderoso, o assustador, o monstro inabalável que bate no peito e destrói qualquer um, o galã Superman só precisava ser amado pelo frágil mocinho. Porque pode até ter uma descolada que te instigue, uma gostosa que te atraia, uma bonitona que namore sua casca. Mas amor igual ao meu, definitivamente, não tem. Daqui de longe, enquanto escrevo esse texto chorando mais do que cabe no meu rosto, ouvindo pela milésima vez a música do Damien Rice e sem vontade nenhuma de ter vontade nenhuma, eu escuto seu riso forte, exagerado e constante. E eu só consigo sentir mais amor e ter menos peito.

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